Vinícius de Moraes foi um bom pai? Imagino que não. Tinha um filho ali, outro lá e outro acolá. E viajava e bebia muito para ser realmente um pai adequado. O café da manhã no bar Veloso era whisky com tremoços. E estas são impressões minhas, que estabeleço pelo que li e conheço dele. O que tenho certeza é que não era padrão. Não poderia ser. O parceiro Toquinho conta até hoje certos detalhes ocorridos entre o poeta e seu filho Pedro de Moraes, que teriam inspirado estes versos. Pedro faleceu em maio deste ano. Mas, enfim, o poeta, como o bom filósofo, tem a cosmovisão, a visão que vai além dele. E cumpre também dizer que a MPB tem letristas de variados graus, dos sofisticados aos banais, mas com a riqueza léxica de beleza ao mesmo tempo simples e sofisticada que ele trazia da vivência da literatura para a música, apenas Vinícius tem.
O Filho que eu quero ter
É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar o filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem
De repente, eu vejo se transformar num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a me perguntar um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme, menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir, também, sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme, meu pai, sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter
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